17 dezembro 2015

O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930)


“Em finais do século XIX o Brasil era apontado como um caso único e singular de extrema miscigenação racial.” p.15

Este livro analisa a influência de teorias cientificas vinda da Europa, teorias como “evolucionismo social, positivismo, naturalismo e social-darwinismo”, influenciaram principalmente as elites brasileiras, os chamados “homens de ciência”, em sua maioria oligarcas e filhos de fazendeiros, antes mesmo da existência de qualquer universidade ou instituição propriamente cientifica, estes homens foram a “nata” intelectual do país, que constituíram as primeiras escolas de direito e medicina. Escolas construídas as presas após a vinda da família real 1808 e da independência em 1822, com o intuito de suprir a nação com auxiliares qualificados intelectualmente na administração de um país novo, sem as influências de Portugal.


Nesse primeiro momento buscava-se formar uma identidade nacional, e entender os motivos do atraso do país em relação as nações europeias mais desenvolvidas, todo um conjunto de teorias e ideias novas vindas de fora, teve grande influência em um seleto grupo de intelectuais a partir de 1870. Na Europa o discurso evolucionista e determinista justificava o imperialismo das nações mais desenvolvidas, aqui foi adaptada ao contexto nacional, descartando o que era problemático e reformulando o que mais combinava com nossa realidade de país atrasado e miscigenado. “Negros, africanos, trabalhadores, escravos e ex-escravos” foram definidos como “classe perigosa”, transformados em “objetos de ciência”. Ciência onde se reconhecia diferenças e determinava-se inferioridades. p.28-38

O que chegou no Brasil em finais do século XIX não foi uma ciência do tipo experimental ou sociológica, mas modelos evolucionistas e social-darwinistas que justificavam “teorias de práticas imperialistas de dominação”. p.41


Adaptada a realidade nacional a influência desses teóricos europeus, contribuiu para a criação, na perspectiva das elites, de uma imagem de país progressista, civilizado e cientifico. Ainda na monarquia de d. Pedro II considerado um monarca esclarecido, que dizia “A ciência sou eu”, (parafraseando o rei Luis XIV que dizia “O Estado sou eu”). O Brasil era cadeira cativa nas Exposições Universais de ciência pelo mundo, não a toa d. Pedro II será o patrono dos primeiros institutos que viriam a ser fundados no país. Como já dito as elites criaram uma imagem de país moderno, que incentivava a ciência, constituindo-se em um paraíso para naturalistas, viajarem e aprofundarem seus estudos.

Na literatura nacional as obras como A Carne; Ateneu, A esfinge e O Chromo: um estudo de temperamento, obras naturalistas-científicas vão transmitir os anseios de seus autores em divulgar o pensamento de Spencer e Charles Darwin. p.43-44    

Esse ideário científico de civilização e progresso, se fez sentir nas grandes cidades com amplos programas de higienização e saneamento. “Tratava-se de trazer uma nova racionalidade cientifica para os abarrotados centros urbanos, implementar projetos de cunho eugênico que pretendiam eliminar a doença, separar a loucura e a pobreza” p.46 Porem havia um “descompasso” entre o projeto da elite e a realidade social da classe pobre que não compreendia estas mudanças no meio em que elas viviam, como foi a Revolta da Vacina.

As doutrinas raciais do século XIX tomaram corpo com a junção de obras de alguns pensadores que eram contra a visão de humanidade como uma só, como o jurista Cornelius de Pauw que introduz o conceito de “degeneração”, como sendo um desvio patológico. No inicio do século XIX Georges Cuvier utiliza o termo “raça”, “inaugurando a idéia da existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos.” Houve uma reação, de alguns pensadores europeus, ao Iluminismo e a Revolução Francesa e sua visão de igualdade humana, em detrimento de doutrinas que afirmava a existência de diferenças básicas entre os seres humanos. p.62-63

Assim, duas vertentes passaram a aglutinar os diferentes autores que pensavam a origem do homem no século XIX, a concepção “monogenista” dominante até meados do século XIX, que conforme a bíblia, acreditava que a humanidade era una, e que tinha uma origem comum. E a concepção “poligenista”, que representava uma contestação ao dogma monogenista da Igreja.  Os autores poligenista acreditavam na “existência de vários centros de criação”, que deram origem a raça humana, explicando as diferenças raciais observadas entres os seres humanos. p.64

Em 1859, Charles Darwin publicou o seu famoso livro “A origem das espécies”, levando o embate entre poligenistas e monogenistas a amenizar-se, já que tinha observações que agradava a ambas as concepções.
O impacto do livro de Darwin foi imenso influenciando várias disciplinas sociais (antropologia, sociologia, história, teoria política e econômica), filosofia e política. Na política o darwinismo significou uma sustentação teórica as nações imperialistas, noções como “seleção natural” e “mais forte e adaptado”, foram amplamente utilizado para justificar o imperialismo dos países ricos sobre os pobres. p.72-74

Os estudos de Darwin originou duas escolas deterministas, uma de caráter geográfico representada por Ratzel e Buckle, “advogavam a tese de que o desenvolvimento cultural de uma nação seria totalmente condicionada pelo meio”. E a outra um determinismo racial denominado “darwinismo social” ou “teoria das raças”, essa tese “via de forma pessimista a miscigenação, (...) sendo todo cruzamento, por princípio, entendido como erro. As decorrências lógicas desse tipo de postura eram duas: enaltecer a existência de ‘tipos puros’ e compreender a mestiçagem como sinônimo de degeneração não só racial como social.” p.76-78

O britânico Francis Galton cria em 1883, uma espécie de darwinismo social avançado a “Eugenia” (Eu-boa; genus-geração) em 1869 lança sua obra considerada a fundadora da eugenia, “Hereditary genius”, defendia que a capacidade humana era função da hereditariedade e não da educação: “as proibições aos casamentos inter-raciais, as restrições que incidiam sobre ‘alcoólatras, epilépticos e alienados’, visavam, segundo essa ótica, a um maior equilíbrio genético, ‘um aprimoramento das populações’, ou a identificação precisa ‘das características físicas que apresentavam grupos sociais indesejáveis’”. p.78-79 Esse pensamento influenciou o surgimento do Nazismo nas décadas de 1920-30.

O capítulo quarto faz um estudo das origens e do funcionamento do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o famoso IHGB (1839). E o surgimento de outros institutos como o “Instituto Archeologico e Geographico Pernanbucano” (1862) e o “Instituto Histórico e Geographico de São Paulo” (1894).

O capítulo quinto trata das origens das duas primeiras faculdades de direito do país, uma em São Paulo e a outra primeiramente em Olinda e posteriormente transferida para Recife.
O Capítulo sexto trata da história e doutrinas pregadas nas duas primeiras faculdades de medicina do país a “Faculdade de Medicina da Bahia” e a “Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro”.

Livro recomendado para quem estuda as teorias científicas influentes na Europa do século XIX, e os reflexos dessas doutrinas nos intelectuais brasileiros na virada do século XIX para o XX, e o mais importante como essas idéias foram recebidas e adaptadas para uma realidade diferente do contexto europeu.

Fonte: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Um comentário:

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